terça-feira, 6 de setembro de 2011

Travessia Itatiaia-Maromba (Visconde de Mauá)


1º Dia

Acordei às 03:00 hs da manhã na casa do Guia Osiris. Ele havia me convidado junto com a aluna do ETGE Simone para pernoitamos na sua casa já que somente ele e seu irmão estariam. Partimos então de Laranjeiras até o ponto de encontro no Largo do Machado a pé já que não era muito longe. Fomos ao clube pegarmos algum material e as cargueiras que deixamos lá e voltamos ao ônibus, que já nos esperava.
Com muito receio em relação ao tempo partimos, pois havia chovido durante a noite e ainda na linha vermelha e via Dutra durante o início da nossa viagem. Porém após subirmos a Serra das Araras ela parou, mas as nuvens ainda estavam lá. Parecia que ia melhorar, mas nada do Sol. Já na parada ele começou a aparecer, mas quando olhávamos para a serra de Itatiaia parecia que estava tudo nebuloso. Os guias já avisavam para nos preparar para possível chuva na travessia.

Parada em Itatia

Ao começar a subir a estrada para Itamonte eis que o Sol começou a vencer cada vez mais as nuvens.  Quando saímos da estrada principal e entramos na estrada que ligava ao parque eis que ele praticamente já reinava e percebemos que teríamos uma excursão com muito visual. Sentia pena do micro-ônibus que nos levava, pois a estrada de terra era bem sofrível. Foram longos 13 km até a entrada do parque.  De lá Osiris me mostrou a Serra Fina (infelizmente não deu para tirar foto) e vi realmente aquela “bruta” ascensão o qual os Camelos passaram em 2009.



Na entrada do parque já tivemos uma boa notícia. O ingresso que custaria R$ 28,00 caiu para R$ 16,50. Tiramos fotos, distribuímos peso das nossas cargueiras (eu não levei barraca, mas em compensação levei dois botijões do fogareiro e uma garrafa d’água a mais de 1,5L) e partimos pela longa estrada até o Abrigo Rebouças.


Logo de início não dá para ver os grandes picos, além do Morro do Couto à direita. Mas o morro a esquerda aos poucos foi liberando o pico que era um dos meus objetivos na vida. Só por ver esta imagem já provocou uma grande emoção em mim. Lágrimas chegaram aos meus olhos e eu pensei: “Finalmente! Aquilo que sempre li em relatos e vi em fotos finalmente estou contemplando.” Um dos meus sonhos se realizava. Eu estava começando a ver as AGULHAS NEGRAS.

Crista das Agulhas Negras

Fomos avançando cada vez mais até que chegamos ao Abrigo Rebouças. Particularmente eu achei, pelo menos externamente, mais bonito e conservado que nas fotos. Pegamos uma das trilhas a direita e fomos em frente. Passamos por uma ponte pênsil em direção as Agulhas e mais adiante nos separamos desta trilha pegando na primeira bifurcação para a esquerda. Continuamos e erramos uma das bifurcações e tivemos que voltar. Tínhamos que pegar a mesma trilha que leva para a Pedra do Altar. Voltamos e fizemos a ascensão de um morro. Talvez tenha sido a subida mais íngreme, mas não se compara a Isabeloca ou a Luva. Porém alguns já demonstravam certo sinal de cansaço. Resolvemos parar devido a isso e alguns não estarem se sentido bem. Realmente estranhei esta certa forma de ritmo do pessoal. Via ali alguns veteranos em trilha. Até eu sentia um pouco de cansaço maior do que o normal. A hipótese mais provável seria pelo ar mais rarefeito. Nós iniciamos a nossa jornada já acima dos 2.000 metros de altura. Não tivemos nenhuma aclimatização e ainda por cima o Sol, apesar de não estar muito quente, castigava lá em cima. Enquanto estávamos parados ficava contemplando as Agulhas. Estava praticamente na beira dela e eu ficava pensando que estava sonhando. Ainda não acreditava que estava ali. A sua esquerda aparecia agora a Asa de Hermes. Este nome é devido a uma pedra inclinada em seu topo, que lembra a asa do capacete de Hermes, mensageiro dos Deuses no Olímpio.

Abrigo Rebouças


Ponte Pêncil

Agulhas Negras

 Após nos recuperar e “almoçarmos” continuamos a subir mais um pouco contornando o morro. E aí vimos mais uma bifurcação. Seguimos pela esquerda, pois a da direita aparentemente nos levaria para o cume da Pedra do Altar. Eu estranhei seguirmos este caminho, pois a partir daí continuamos a percorrer um caminho paralelo e no sentido contrário a estrada que liga a entrada do parque ao Abrigo Rebouças. Fiquei pensando se não teria uma trilha que ligava a estrada até este trecho da trilha, que evitaria esta enorme volta que demos. Porém mais adiante vim a atender o verdadeiro sentido da travessia...

Pedra do Altar

Continuamos a percorrer a trilha como se estivéssemos voltando, porém aos poucos ela ia contornando para a direita e aí vimos um planalto que dava na parte de trás das montanhas. Isso deu certo alivio, pois percebemos que agora seguiremos por um trecho plano. Chegamos nele e começamos a contornar este trecho pela esquerda. Aliás depois da última bifurcação é só seguir pela trilha. E a partir daí começa a aparecer as marcações feitas com varetas com a parte de cima vermelha. Pulamos um riacho e percorremos até chegar na borda esquerda deste planalto onde paramos. Nota: Há bastantes pontos de água durante os dois dias de travessia. Porém neste ponto há uma trilha para a esquerda que leva para a cabeceira da Aiuruoca. Atravesse a sua cabeceira. Caso não tenha deixado a cargueira lá atrás na beira do rio é melhor deixar a mesma  antes de atravessá-la. Depois é só seguir pela trilha até a base da mesma. É uma bela cachoeira. Neste ponto de parada também avistamos a versão Pedra do Sino de Itatiaia.

Planalto

Pedra do Sino

Cachoeira Aiuruoca

O "Marco"

Depois disso seguimos ainda contornando o planalto pela esquerda. Neste trecho você percorre paralelamente a um rio intermitente, ou seja, um rio que em épocas de estiagem some. Você percebe pela aparente erosão do local. Fiquei imaginando a quantidade de água que deve passar por aqui quando chove muito. Quando já estávamos quase chegando ao final do planalto seguimos para direita e subimos contornando o morro a direita. Na verdade se trata do morro dos “Ovos da Galinha” onde fizemos mais uma parada antes de fazer a última ascensão do dia.


Ovos da Galinha

Continuamos subindo calmamente. Lógico que como toda subida ela cansa, mas como disse lá atrás, subidas como Isabeloca e da Luva não existe nesta travessia. Chegamos ao último platô cuja trilha contornava para a esquerda. A partir deste ponto só seria descida, mas havia algo de errado. Se estivermos contornando a serra, cadê a parte de trás das Agulhas? Deixamos as nossas cargueiras e um dos guias nos levou para a direita até um pequeno morro e pudemos avistar a parte de trás das Agulhas. A sua face nordeste demonstra muito mais facilidade de ascensão. Não tem as ranhuras que o lado sudoeste possui, e a inclinação aparenta ser mais suave. Foi neste momento que entendi o sentido da travessia. Se a trilha da travessia fosse objetiva ela passaria pelas laterais das Agulhas e não faria todo este enorme “s” que fizemos em seu percurso. Porém não teríamos visto outras belezas como a Pedra do Altar, a Cachoeira Aiuruoca, a Pedra do sino, os Ovos da Galinha entre outros.

Parte de trás das Agulhas Negras


A partir deste ponto foi só descida. Aliás, uma longa descida. Como já disse ela é bem demarcada. E na única aparente bifurcação, que se você errar entraria na mata você visualiza do lado direito o sinalizador vermelho indicando o caminho da trilha. A descida proporciona a beleza de um belo vale à frente e de um novo e belíssimo planalto à direita para aonde se dirige a trilha. Quando a trilha chegar a uma parede é só seguir na trilha para a direita até um descampado. Foi ai que fizemos nossa última parada. Descansamos e percorremos o último trecho. Descemos mais um pouco e já avistamos do outro lado do vale do Rancho Caído. Local autorizado para acampamento. Atravessamos (ou melhor, saltamos) um rio e chegamos finalmente. Percebemos que o local também é usado por caçadores, pois vimos uma bancada feita de varetas e lanternas improvisadas feitas de lata. Há um riacho a direita de quem chega ao local de onde se pode pegar água. Desci a minha mochila e procurei o meu kit de primeiros socorros e chinelo. Durante o percurso dei uma pancada com o joelho em alguma espécie de raiz mal cortada em um “degrau”, mas sem maiores conseqüências. Somente aranhões. Mas por precaução passei nebacetim e cataflamo. Aproveitei e passei cataflam também nos pés também. Montamos as barracas, caiu à noite e jantamos. Aliás, este pessoal de montanha gosta de comer. Fartamos-nos com tanta variedade. Muita comida e tang de vários sabores.





Rancho Caído ao centro da foto

Praticamente todas as barracas ficaram abrigadas na mata. Sai deste abrigo natural e fui para parte descampada a fim de ver se ainda conseguia ver algum satélite ou estrelas cadentes. E vi a segunda coisa que mais me impressionou durante a travessia, depois das Agulhas: O céu. Foi o céu estrelado mais impressionante que vi em toda a minha vida. Apesar de estarmos localizado em um vale, os cumes ao redor não são tão altos e é possível ver ver a extensão do céu. Estávamos em Lua Nova e sem uma nuvem no céu. Que espetáculo. Podia ver toda a nebulosa da Via láctea. Não me recordo de ter visto um céu desses nem mesmo na Serra dos Orgãos. Lindo demais. Alguém com coragem de trazer um telescópio ia se fartar ali. Depois de algum tempo fui dormir, pois a maioria já tinha ido fazer o mesmo.



2º dia

Levantamos às 06:00 hs. Fizemos nosso breakfast e desarmamos as barracas. Durante este tempo deixei a câmera filmando o nascer do sol (sempre). As 08:00hs partimos e ai fomos descer? Nada disso. Subimos o morro na encosta de onde acampamos como sempre. Uma subida suave até que demos em um vale. Interessante é que desde que avistamos a Parte de trás das Agulhas Negras no primeiro dia, a todo o momento era possível avistá-la. Parece que a mesma nos vigiava a todo o momento, ou entre um morro ou outro que a ocultava. Descemos o mesmo em direção a um vale e contornamos para a direita até uma nova subida, descemos até a o topo da crista de um grande vale a direita. É o vale de Visconde de Mauá. 



Agulhas Negras ao fundo

Vale de Visconde de Mauá

Fizemos uma breve parada, pois a descida era longa. Foi a última vez que foi possível ver o Topo das Agulhas Negras. A inclinação dessa descida lembra a da Isabeloca, porém com ziguezagues mais bem feitos e sem trechos erodidos, ou seja, como a Isabeloca deveria ser. Como no primeiro dia o sol não dava trégua e continuava a nos acompanhar. Após cerca de 2 horas de nossa partida finalmente chegamos ao trecho de mata atlântica. Até o momento só tivemos contato com rochas e o chamado Campos de Altitude. Com isso acabou também praticamente a parte do visual. Continuamos a descer e demos em uma aparente bifurcação cuja esquerda dava em um descampado, aparentemente usado para acampamento de caçadores. Seguimos para direita e logo você vai dar em um riacho. Até ai foi cerca de 2 horas e meia. Portanto neste dia é bom sair com um pouco mais de água e reabastecer aí. Logo depois da partida com cerca de 10 a 15 minutos vimos outro ponto, marcando com a mesma vareta com parte de cima vermelha a trilha a ser percorrida, porém bem definida. Mas ai se encontra um divisor de águas. Dando alguns passos para trás percebe-se uma trilha saindo para a esquerda. Quem seguir a trilha do marcador vai sair entre Maringá e Visconde de Mauá. Este é o percurso oficial, que sai no Vale das Cruzes. Quem for pela trilha da esquerda vai sair na Cachoeira do Escorrega. 30 minutos antes da Vila da Maromba. Pelo que o único participante que já havia feito esta travessia disse o Vale das Cruzes não tem nada demais. Entramos para esquerda e seguimos a trilha que já não era tão aberta como a outra, porém ainda assim bem visível. Encontramos com dois guardas do parque nesta trilha e juro que pensei que iam mandar a gente voltar e pegar a trilha correta, mas os mesmos permitiram a nossa passagem só advertindo que este não era o trecho correto.


O fiscal esta de amarelo conversando com os guias.

Seguimos e paramos no primeiro riacho onde dei uma revigorada mergulhando em um dos seus pequenos poços. Seguimos adiante onde demos mais uma parada no meio da trilha. Passamos por outro riacho e caminhamos até sairmos em uma propriedade rural com uma servidão (passagem que se dá em um terreno para que o proprietário de outro terreno poça passar para alcançar ou sair do seu.). Já era possível escutar o barulho do rio preto. Curiosamente tinha uma pele de boi estendida secando ao sol neste lugar. Pegamos orientação com um morador e seguimos pela estrada. Só um detalhe: Há criação de abelhas neste local, e portando quem for se aventurar se mantenha na estrada. Não demoramos muito e saímos de cara com a Cachoeira do Escorrega. Saímos da propriedade, e encostamos as nossas cargueiras e descansamos. Quer dizer nem todos. Eu e mais 3 pessoas fomos nos divertir com o tobogã natural da cachoeira. Eram 12h30min quando chegamos.

Revigorando

A pele de boi


Cachoeira do Escorrega

Depois disso, nós fomos em direção a Maromba. O percurso levou cerca de 30 minutos e almoçamos numa hospedagem no local. Eu comi uma bela truta com Champion. Pois é voltamos à civilização. Às 03h15min voltamos e partimos no nosso micro-ônibus que já nos aguardava. E eu com eternas saudades desse local.


Maromba


Informações sobre a travessia:

Duração do percurso no 1º dia: 07 horas.
Duração do percurso no 2º dia: 04 horas e meia (Saída para a Cachoeira do Escorrega).

Orientação: Média. Há algumas bifurcações durante o trecho, mas as trilhas são bem definidas.

Percurso: Sem grandes aclives. Algum degrau ou outro para percorrer nos trechos mais planos. Porém em dias claros e devido aos Campos de Altitudes é recomendado protetor solar e chapéu. Há bastantes pontos de água, somente no segundo dia que se leva cerca de 2 horas para o primeiro ponto de água.

Vejam o vídeo:


5 comentários:

  1. Parabéns! Lindas imagens.
    Relato bem explicado
    Valeu!

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  2. Carlos Padilha de Souza7 de setembro de 2011 às 11:37

    Parabéns pela conquista.
    Obrigado por compartilhar conosco, por meio do detalhado relato.
    Um abraço.

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  3. Acabei de atualizar a postagem postando no final um vídeo produzido por mim sobre o percurso.

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  4. Parabens George, belas imagens!!!!

    - Rafa (Devalle)

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