1º Dia
Acordei às 03:00 hs da manhã na casa do Guia Osiris. Ele
havia me convidado junto com a aluna do ETGE Simone para pernoitamos na sua
casa já que somente ele e seu irmão estariam. Partimos então de Laranjeiras até
o ponto de encontro no Largo do Machado a pé já que não era muito longe. Fomos
ao clube pegarmos algum material e as cargueiras que deixamos lá e voltamos ao
ônibus, que já nos esperava.
Com muito receio em relação ao tempo partimos, pois havia
chovido durante a noite e ainda na linha vermelha e via Dutra durante o início
da nossa viagem. Porém após subirmos a Serra das Araras ela parou, mas as
nuvens ainda estavam lá. Parecia que ia melhorar, mas nada do Sol. Já na parada
ele começou a aparecer, mas quando olhávamos para a serra de Itatiaia parecia
que estava tudo nebuloso. Os guias já avisavam para nos preparar para possível
chuva na travessia.
Parada em Itatia
Ao começar a subir a estrada para Itamonte eis que o Sol
começou a vencer cada vez mais as nuvens.
Quando saímos da estrada principal e entramos na estrada que ligava ao
parque eis que ele praticamente já reinava e percebemos que teríamos uma
excursão com muito visual. Sentia pena do micro-ônibus que nos levava, pois a
estrada de terra era bem sofrível. Foram longos 13 km até a entrada do
parque. De lá Osiris me mostrou a Serra
Fina (infelizmente não deu para tirar foto) e vi realmente aquela “bruta” ascensão
o qual os Camelos passaram em 2009.
Na entrada do parque já tivemos uma boa notícia. O ingresso
que custaria R$ 28,00 caiu para R$ 16,50. Tiramos fotos, distribuímos peso das
nossas cargueiras (eu não levei barraca, mas em compensação levei dois botijões
do fogareiro e uma garrafa d’água a mais de 1,5L) e partimos pela longa estrada
até o Abrigo Rebouças.
Logo de início não dá para ver os grandes picos, além do
Morro do Couto à direita. Mas o morro a esquerda aos poucos foi liberando o
pico que era um dos meus objetivos na vida. Só por ver esta imagem já provocou
uma grande emoção em mim. Lágrimas chegaram aos meus olhos e eu pensei:
“Finalmente! Aquilo que sempre li em relatos e vi em fotos finalmente estou
contemplando.” Um dos meus sonhos se realizava. Eu estava começando a ver as
AGULHAS NEGRAS.
Crista das Agulhas Negras
Fomos avançando cada vez mais até que chegamos ao Abrigo
Rebouças. Particularmente eu achei, pelo menos externamente, mais bonito e
conservado que nas fotos. Pegamos uma das trilhas a direita e fomos em frente.
Passamos por uma ponte pênsil em direção as Agulhas e mais adiante nos
separamos desta trilha pegando na primeira bifurcação para a esquerda.
Continuamos e erramos uma das bifurcações e tivemos que voltar. Tínhamos que
pegar a mesma trilha que leva para a Pedra do Altar. Voltamos e fizemos a
ascensão de um morro. Talvez tenha sido a subida mais íngreme, mas não se
compara a Isabeloca ou a Luva. Porém alguns já demonstravam certo sinal de
cansaço. Resolvemos parar devido a isso e alguns não estarem se sentido bem.
Realmente estranhei esta certa forma de ritmo do pessoal. Via ali alguns
veteranos em trilha. Até eu sentia um pouco de cansaço maior do que o normal. A
hipótese mais provável seria pelo ar mais rarefeito. Nós iniciamos a nossa
jornada já acima dos 2.000 metros de altura. Não tivemos nenhuma aclimatização
e ainda por cima o Sol, apesar de não estar muito quente, castigava lá em cima.
Enquanto estávamos parados ficava contemplando as Agulhas. Estava praticamente
na beira dela e eu ficava pensando que estava sonhando. Ainda não acreditava
que estava ali. A sua esquerda aparecia agora a Asa de Hermes. Este nome é
devido a uma pedra inclinada em seu topo, que lembra a asa do capacete de
Hermes, mensageiro dos Deuses no Olímpio.
Abrigo Rebouças
Ponte Pêncil
Agulhas Negras
Após nos recuperar e
“almoçarmos” continuamos a subir mais um pouco contornando o morro. E aí vimos
mais uma bifurcação. Seguimos pela esquerda, pois a da direita aparentemente
nos levaria para o cume da Pedra do Altar. Eu estranhei seguirmos este caminho,
pois a partir daí continuamos a percorrer um caminho paralelo e no sentido
contrário a estrada que liga a entrada do parque ao Abrigo Rebouças. Fiquei
pensando se não teria uma trilha que ligava a estrada até este trecho da
trilha, que evitaria esta enorme volta que demos. Porém mais adiante vim a
atender o verdadeiro sentido da travessia...
Pedra do Altar
Continuamos a percorrer a trilha como se estivéssemos
voltando, porém aos poucos ela ia contornando para a direita e aí vimos um
planalto que dava na parte de trás das montanhas. Isso deu certo alivio, pois
percebemos que agora seguiremos por um trecho plano. Chegamos nele e começamos a
contornar este trecho pela esquerda. Aliás depois da última bifurcação é só
seguir pela trilha. E a partir daí começa a aparecer as marcações feitas com
varetas com a parte de cima vermelha. Pulamos um riacho e percorremos até
chegar na borda esquerda deste planalto onde paramos. Nota: Há bastantes pontos
de água durante os dois dias de travessia. Porém neste ponto há uma trilha para
a esquerda que leva para a cabeceira da Aiuruoca. Atravesse a sua cabeceira.
Caso não tenha deixado a cargueira lá atrás na beira do rio é melhor deixar a
mesma antes de atravessá-la. Depois é só
seguir pela trilha até a base da mesma. É uma bela cachoeira. Neste ponto de
parada também avistamos a versão Pedra do Sino de Itatiaia.
Planalto
Pedra do Sino
Cachoeira Aiuruoca
O "Marco"
Depois disso seguimos ainda contornando o planalto pela
esquerda. Neste trecho você percorre paralelamente a um rio intermitente, ou
seja, um rio que em épocas de estiagem some. Você percebe pela aparente erosão
do local. Fiquei imaginando a quantidade de água que deve passar por aqui
quando chove muito. Quando já estávamos quase chegando ao final do planalto
seguimos para direita e subimos contornando o morro a direita. Na verdade se
trata do morro dos “Ovos da Galinha” onde fizemos mais uma parada antes de
fazer a última ascensão do dia.
Ovos da Galinha
Continuamos subindo calmamente. Lógico que como toda subida
ela cansa, mas como disse lá atrás, subidas como Isabeloca e da Luva não existe
nesta travessia. Chegamos ao último platô cuja trilha contornava para a
esquerda. A partir deste ponto só seria descida, mas havia algo de errado. Se
estivermos contornando a serra, cadê a parte de trás das Agulhas? Deixamos as
nossas cargueiras e um dos guias nos levou para a direita até um pequeno morro
e pudemos avistar a parte de trás das Agulhas. A sua face nordeste demonstra
muito mais facilidade de ascensão. Não tem as ranhuras que o lado sudoeste
possui, e a inclinação aparenta ser mais suave. Foi neste momento que entendi o
sentido da travessia. Se a trilha da travessia fosse objetiva ela passaria
pelas laterais das Agulhas e não faria todo este enorme “s” que fizemos em seu
percurso. Porém não teríamos visto outras belezas como a Pedra do Altar, a
Cachoeira Aiuruoca, a Pedra do sino, os Ovos da Galinha entre outros.
Parte de trás das Agulhas Negras
A partir deste ponto foi só descida. Aliás, uma longa
descida. Como já disse ela é bem demarcada. E na única aparente bifurcação, que
se você errar entraria na mata você visualiza do lado direito o sinalizador
vermelho indicando o caminho da trilha. A descida proporciona a beleza de um
belo vale à frente e de um novo e belíssimo planalto à direita para aonde se
dirige a trilha. Quando a trilha chegar a uma parede é só seguir na trilha para
a direita até um descampado. Foi ai que fizemos nossa última parada. Descansamos
e percorremos o último trecho. Descemos mais um pouco e já avistamos do outro
lado do vale do Rancho Caído. Local autorizado para acampamento. Atravessamos (ou
melhor, saltamos) um rio e chegamos finalmente. Percebemos que o local também é
usado por caçadores, pois vimos uma bancada feita de varetas e lanternas
improvisadas feitas de lata. Há um riacho a direita de quem chega ao local de
onde se pode pegar água. Desci a minha mochila e procurei o meu kit de
primeiros socorros e chinelo. Durante o percurso dei uma pancada com o joelho
em alguma espécie de raiz mal cortada em um “degrau”, mas sem maiores
conseqüências. Somente aranhões. Mas por precaução passei nebacetim e
cataflamo. Aproveitei e passei cataflam também nos pés também. Montamos as
barracas, caiu à noite e jantamos. Aliás, este pessoal de montanha gosta de
comer. Fartamos-nos com tanta variedade. Muita comida e tang de vários sabores.
Rancho Caído ao centro da foto
Praticamente todas as barracas ficaram abrigadas na mata. Sai
deste abrigo natural e fui para parte descampada a fim de ver se ainda
conseguia ver algum satélite ou estrelas cadentes. E vi a segunda coisa que
mais me impressionou durante a travessia, depois das Agulhas: O céu. Foi o céu
estrelado mais impressionante que vi em toda a minha vida. Apesar de estarmos
localizado em um vale, os cumes ao redor não são tão altos e é possível ver ver
a extensão do céu. Estávamos em Lua Nova e sem uma nuvem no céu. Que
espetáculo. Podia ver toda a nebulosa da Via láctea. Não me recordo de ter
visto um céu desses nem mesmo na Serra dos Orgãos. Lindo demais. Alguém com
coragem de trazer um telescópio ia se fartar ali. Depois de algum tempo fui
dormir, pois a maioria já tinha ido fazer o mesmo.
2º dia
Levantamos às 06:00 hs. Fizemos nosso breakfast e desarmamos
as barracas. Durante este tempo deixei a câmera filmando o nascer do sol
(sempre). As 08:00hs partimos e ai fomos descer? Nada disso. Subimos o morro na
encosta de onde acampamos como sempre. Uma subida suave até que demos em um
vale. Interessante é que desde que avistamos a Parte de trás das Agulhas Negras
no primeiro dia, a todo o momento era possível avistá-la. Parece que a mesma
nos vigiava a todo o momento, ou entre um morro ou outro que a ocultava.
Descemos o mesmo em direção a um vale e contornamos para a direita até uma nova
subida, descemos até a o topo da crista de um grande vale a direita. É o vale
de Visconde de Mauá.
Agulhas Negras ao fundo
Vale de Visconde de Mauá
Fizemos uma breve parada, pois a descida era longa. Foi a
última vez que foi possível ver o Topo das Agulhas Negras. A inclinação dessa
descida lembra a da Isabeloca, porém com ziguezagues mais bem feitos e sem
trechos erodidos, ou seja, como a Isabeloca deveria ser. Como no primeiro dia o
sol não dava trégua e continuava a nos acompanhar. Após cerca de 2 horas de
nossa partida finalmente chegamos ao trecho de mata atlântica. Até o momento só
tivemos contato com rochas e o chamado Campos de Altitude. Com isso acabou
também praticamente a parte do visual. Continuamos a descer e demos em uma
aparente bifurcação cuja esquerda dava em um descampado, aparentemente usado
para acampamento de caçadores. Seguimos para direita e logo você vai dar em um
riacho. Até ai foi cerca de 2 horas e meia. Portanto neste dia é bom sair com
um pouco mais de água e reabastecer aí. Logo depois da partida com cerca de 10
a 15 minutos vimos outro ponto, marcando com a mesma vareta com parte de cima
vermelha a trilha a ser percorrida, porém bem definida. Mas ai se encontra um
divisor de águas. Dando alguns passos para trás percebe-se uma trilha saindo
para a esquerda. Quem seguir a trilha do marcador vai sair entre Maringá e
Visconde de Mauá. Este é o percurso oficial, que sai no Vale das Cruzes. Quem
for pela trilha da esquerda vai sair na Cachoeira do Escorrega. 30 minutos
antes da Vila da Maromba. Pelo que o único participante que já havia feito esta
travessia disse o Vale das Cruzes não tem nada demais. Entramos para esquerda e
seguimos a trilha que já não era tão aberta como a outra, porém ainda assim bem
visível. Encontramos com dois guardas do parque nesta trilha e juro que pensei
que iam mandar a gente voltar e pegar a trilha correta, mas os mesmos
permitiram a nossa passagem só advertindo que este não era o trecho correto.
O fiscal esta de amarelo conversando com os guias.
Seguimos e paramos no primeiro riacho onde dei uma
revigorada mergulhando em um dos seus pequenos poços. Seguimos adiante onde
demos mais uma parada no meio da trilha. Passamos por outro riacho e caminhamos
até sairmos em uma propriedade rural com uma servidão (passagem que se dá em um
terreno para que o proprietário de outro terreno poça passar para alcançar ou
sair do seu.). Já era possível escutar o barulho do rio preto. Curiosamente
tinha uma pele de boi estendida secando ao sol neste lugar. Pegamos orientação
com um morador e seguimos pela estrada. Só um detalhe: Há criação de
abelhas neste local, e portando quem for se aventurar se mantenha na estrada.
Não demoramos muito e saímos de cara com a Cachoeira do Escorrega. Saímos da
propriedade, e encostamos as nossas cargueiras e descansamos. Quer dizer nem
todos. Eu e mais 3 pessoas fomos nos divertir com o tobogã natural da cachoeira.
Eram 12h30min quando chegamos.
Revigorando
A pele de boi
Cachoeira do Escorrega
Depois disso, nós fomos em direção a Maromba. O percurso
levou cerca de 30 minutos e almoçamos numa hospedagem no local. Eu comi uma
bela truta com Champion. Pois é voltamos à civilização. Às 03h15min voltamos e
partimos no nosso micro-ônibus que já nos aguardava. E eu com eternas saudades
desse local.
Maromba
Informações sobre a
travessia:
Duração do percurso no 1º dia: 07 horas.
Duração do percurso no 2º dia: 04 horas e meia (Saída para a
Cachoeira do Escorrega).
Orientação: Média. Há algumas bifurcações durante o trecho,
mas as trilhas são bem definidas.
Percurso: Sem grandes aclives. Algum degrau ou outro para
percorrer nos trechos mais planos. Porém em dias claros e devido aos Campos de Altitudes é recomendado
protetor solar e chapéu. Há bastantes pontos de água, somente no segundo dia
que se leva cerca de 2 horas para o primeiro ponto de água.
Vejam o vídeo:
Vejam o vídeo:
Parabéns! Lindas imagens.
ResponderExcluirRelato bem explicado
Valeu!
Parabéns pela conquista.
ResponderExcluirObrigado por compartilhar conosco, por meio do detalhado relato.
Um abraço.
obrigada! ajudou mto!
ResponderExcluirAcabei de atualizar a postagem postando no final um vídeo produzido por mim sobre o percurso.
ResponderExcluirParabens George, belas imagens!!!!
ResponderExcluir- Rafa (Devalle)